De volta ao vilarejo, os irmãos, exceto George, reuniram-se na casa de Katy Weil para um jantar de comemoração pelo feito de ter extinguindo o mal que ainda restava no vilarejo, comendo uma deliciosa carne de porco feita pelas habilidosas mãos da viúva, além de terem sido amplamente ovacionados pelos camponeses que viram a fumaça saindo do infame castelo Karnstein.
- Estranho que George não tenha vindo, ele nunca perde uma comemoração - disse Wilhem cortando um pedaço da carne e colocando vinho em seu copo.
- Eu passei na casa dele para avisá-lo sobre o jantar e a criada me falou que ele passou o dia com febre e ficaria em casa hoje - falou Hufflepuff bebendo um pouco de vinho.
- Francamente eu acho que é mentira - disse Ártemis Winchester colocando sal em sua salada.
- Por favor, será que você pode parar com essas pendengas familiares pelo menos hoje? - perguntou Lauzun olhando Ártemis.
- E como posso sabendo que vocês confiam nesse devasso? Vocês não deviam depositar tanta confiança nele assim, tenho certeza de que um dia ainda vão me ouvir, ele jamais se redimiu de verdade, sempre foi um mentiroso safado assim como a corja familiar dele! - exclamou ele furioso e saindo da mesa.
A situação ficou muito desagradável devido à fúria de Ártemis, afinal todos ali sabiam que os Winchesters e os Witcherwells da Inglaterra eram inimigos desde tempos muito distantes, pois, segundo relatos de viajantes vindos de lá, a família de George sempre foi de assassinos, ladrões, golpistas, devassos e outros piores termos e a de Ártemis, de infinita bondade, justiça, lealdade e caridade.
- Nem sempre a família inteira é da mesma forma - disse Harold rompendo o silêncio.
- Como se isso entrasse na cabeça dura dele, ele odeia o George desde que ele chegou aqui - falou um dos irmãos devorando um pedaço do porco.
- Engraçado é que vocês nunca perguntaram o real motivo, não pode ser simplesmente uma pendenga familiar, alguma a coisa a mais tem por trás disso e eu não consigo usar Oclumência e menos ainda a telepatia para ler a mente do Ártemis porque ela é como um baú trancado com uma corrente, precisando da chave para abri-lo e a chave é perguntar - disse Anton dando uma opinião e se referindo ao feitiço usado para ler pensamentos e a um de seus diferentes poderes, que não era comum entre bruxos.
- Ninguém aqui pensou nisso antes, o bruxinho tem razão - falou Wilhem coçando a careca e tratando Anton como criança.
Todos ficaram especulando qual seria o motivo do grande ódio de Ártemis por George, afinal, o primeiro nunca tinha falado sobre isso e não fazia questão alguma de comentar o assunto, então, Anton resolveu procurar o irmão do lado de fora e matar sua curiosidade sobre aquilo: - Winchester, eu sei que não tenho direito de me meter na sua vida, mas por que você odeia tanto o George a ponto de ter dito aquilo na frente dos irmãos?
- Eu sei como sofreu com a perda da professora Ingrid, sua irmã mais velha, então vai entender o meu motivo: George matou meu irmão caçula há 10 anos em Berlim, numa briga de bar - disse Ártemis segurando as lágrimas e continuando: - O Albert se meteu a brigar para defender a servente da violência devassa desse desgraçado e no fim, tomou um tiro no peito, então você deve imaginar o que eu sofri porque você passou pelo mesmo.
Anton compreendeu e ficou profundamente triste, afinal, ele sabia o que era perder um ente querido assassinado e pensou consigo mesmo os piores desejos contra a alma corrompida de Frieda.
Enquanto isso, George arrumava suas malas depois de passar uma tarde toda com Frieda na cama comemorando plenamente o fato da primeira parte do sinistro plano ter dado certo.
- Deusa linda, eu estou quase terminando de arrumar nossas coisas para irmos embora - disse George sorrindo.
- Sim, sim, estou muito ansiosa para ver aqueles desgraçados balançando no cadafalso da forca! - exclamou Frieda alegre e em seguida fazendo um muxoxo: - Também queria ver o Anton enforcado, mas não há provas para acusá-lo!
George riu: - Ora querida, posso matar dois coelhos com um único tiro: mandar tanto a idiota Maria como o panaca do Anton para a forca, pois eles sabiam da Irmandade e nada fizeram contra, então, eles serão considerados cúmplices.
Frieda pediu um beijo exultando de felicidade e pensando ao mesmo tempo: - Vou me vingar de você Anton Hoffer, vai ver com quantos paus se faz uma jangada seu desgraçado, morrerá enforcado junto com a imbecil da Maria!
A jovem criada Sabine observava os dois se beijando e fazendo aquele horrível plano, ao mesmo tempo em que pensava como duas pessoas podiam ser tão falsas, cruéis e vingativas e o pior é que nada ela podia fazer de concreto, pelo menos não ainda, pois sabia do que o patrão era capaz.
Os irmãos conversavam e tomavam vinho comemorando o sucesso da empreitada no castelo, enquanto Anton e Maria namoravam à luz do luar na porta da casa de Katy, que olhava muito feliz o casal que logo oficializaria a união em uma linda cerimônia, porém, ela tinha de contar à Irmandade o segredo que envolvia as famílias Weil e Gelhorn.
Katy interrompeu o momento dos dois e disse: - Será que vocês se importam de vir comigo até a sala?
Maria e Anton sabiam qual era o assunto a ser tratado, pois ela contara sua história para seu amado logo depois do fim da tragédia que quase ceifou sua vida.
A viúva Weil levou o casal até a sala e disse: - Preciso lhes contar algo muito sério e importante.
Katy contou que Maria e Frieda eram filhas de bruxos de sangue puro, mas que Frieda tinha nascido sem poderes, portanto era aborta, e que seu marido falecido também era nascido em uma família de bruxos e era igual à sobrinha falecida no aspecto de não possuir dons mágicos.
Todos estavam espantados com aquela inesperada revelação e pediram a Katy maiores explicações. Ela as deu dizendo que Gustav fora criado pela parte normal da família por conta de ter ficado órfão muito cedo e que sua irmã mais nova fora levada para um colégio de bruxos porque eles não a quiseram devido ao fato de serem extremamente religiosos.
Ela contou também que Maria foi mandada à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde ela aprendeu tudo o que uma feiticeira deveria saber. Tudo às escondidas com o pretexto de colégio interno na Inglaterra devido às perseguições que os bruxos sofriam nos reinos da Península Itálica.
A Irmandade se espantou e Lauzun disse: - Acho que isso explica a personalidade impossível e má da falecida Frieda, ela morria de inveja da Maria por ela ter nascido com poderes.
- Infelizmente você está certo irmão - disse Ártemis pensando no que Katy tinha contado.
- Mas as duas tiveram a mesma educação, como é que isso foi possível? - perguntou Harold sem conseguir entender aquilo.
Maria rompeu seu silêncio, contando:
- Sempre fui a mais obediente de nós duas e acobertava as escapadelas de Frieda, que nunca gostou dos meus poderes e sabia como eu tinha medo de sermos descobertos, então ela se aproveitava de que eu não estava com minha varinha para me bater e eu sempre fugi, me deixando dominar por ela.
Klemens, com sua imensa curiosidade advinda de médico formado, perguntou: - Quais seus poderes além da bruxaria se é que existem?
- Estes - Maria respondeu se concentrando e criando uma pequena chama em uma das mãos, depois criando uma onda em um copo de água que estava sobre a mesa e depois perguntando para um grupo de irmãos espantados: - Alguém aqui se machucou durante a ida ou volta do castelo?
Um irmão loiro levantou a mão machucada por um espinho de planta e Maria logo foi até ele, pondo a mão sobre o machucado e em poucos segundos o local estava sem qualquer sinal de corte ou sangue.
- Você curou meu machucado! Por Deus Nosso Senhor, que dom mais abençoado você possui, jovem Maria! - exclamou o loiríssimo irmão Clifford abraçando a bela moça e completando: - Como pode tão divina e mágica criatura ter nascido com aquele demônio asqueroso?! Alguns bruxos foram simplesmente abençoados por Deus!
- Ninguém escolhe de quem ou com quem vai nascer, irmão Clifford - disse Maria, colocando em prática as duras lições que tinha aprendido passando por aquela trágica provação: o mundo não é um lugar perfeito, você não pode ser pura ou ingênua se não quiser ser pisada como um tapete, precisa ver malícia em certas coisas se não quisesse cair em determinadas armações, além de saber que não se podia amar e confiar em todos de forma incondicional, pois muitos simplesmente pisavam nas pessoas sem se importar.
Os irmãos mais conservadores ruminavam entre si, sem saber, pela primeira vez, que opinião ter sobre aquilo, pois apesar de terem visto Maria demonstrar poderes tão terrivelmente grandes e que até mesmo poderiam ser perigosos, o poder de cura dela era bonito demais para ser desperdiçado, fosse de que origem fosse, então, acharam melhor deixar as coisas como elas estavam até ali.
- Essa Frieda era uma legítima vagabunda cadela mesmo, mereceu o que o destino deu para ela! - exclamou Wolffenbüttel, ainda muito revoltado com os recentes fatos e mais ainda por saber do modo como ela tratava Maria e apontando a jovem: - Esta moça merece todo o nosso préstimo, não importa se somos conservadores ou liberais!
- Pelo amor de Deus, não use esses termos baixos na frente de todos! - disse Lauzun cutucando o gigante ruivo e dizendo: - Sim, realmente merece meu amigo gigante, você tem razão.
- Realmente Clifford, Maria é uma criaturinha lindamente abençoada - disse Harold em tom paternal, deixando Maria ruborizada.
De repente, foram ouvidas batidas na porta e Katy atendeu. Vendo Sabine, perguntou: - Boa noite senhorita, o que deseja?
- O senhor Witcherwell mandou avisar que vai viajar pela manhã - respondeu a moça.
- Como assim vai viajar?! Ele não deu nenhum aviso! - exclamou Harold com espanto.
- O criado da irmã tísica dele chegou de Viena pelo atalho da floresta e entregou uma carta para o meu patrão, ele precisa ir para a capital ver ela, que está morrendo, coitada - respondeu Sabine, fazendo exatamente o que George mandou: mentir.
- Vou até lá conferir de perto essa história - disse Harold, chamando mais três irmãos para irem com ele e em seguida dizendo:
- Fiquem por aqui, voltamos em alguns minutos.
Depois de andar bastante, Harold e seus acompanhantes chegaram à casa de George e o viram lendo, tristemente, uma carta.
- Lamentamos demais o que está acontecendo com você George, então, penso que é melhor que você vá ir ter com sua irmã - disse Harold consternado com a situação que via, sem imaginar que Frieda se escondia em uma parede falsa da casa.
George sorriu de volta em pura gratidão, absolutamente fingida: - Você está me dando o maior dos presentes, embora eu esteja indo viajar com profunda tristeza, pois deixá-los para mim é a mais dura das despedidas.
- Sua irmã, apesar de ter errado muito na vida, merece sua consideração e que você fique com ela nos últimos momentos, ainda que eu deseje muito mais anos de vida para ela - Harold disse com um sorriso e completou: - Agora vamos nos retirar irmãos, deixar George se preparando para sua viagem - saindo em seguida com os três que o acompanhavam.
Minutos depois George ria copiosamente: - Logo aquele sorriso idiota vai sair da cara daquele holandês e do resto daquela corja religiosa!
O musculoso inglês ouviu as palmas de Frieda e se virou, vendo-a sair gloriosamente da parede falsa de camisola rosa e transparente. Frieda se aproximou, o abraçou e começou a beijá-lo dizendo: - Você é um gênio, duvido que Karnstein fizesse algo melhor se estivesse vivo.
- Ora minha deusa se é para arruinar essa corja de bestas ignorantes e ficar com você, faço tudo o que estiver ao alcance da minha mente genial - disse George sorrindo e pegando Frieda no colo.
Já no quarto, eles protagonizaram pela última vez naquela casa uma cena quente de muito sexo com direito a tudo que podia acontecer entre quatro paredes.
Sabine ouvia os gemidos vindos do quarto deles enquanto o criado de George fazia os últimos ajustes na carruagem para partirem pela manhã, as coisas de Frieda devidamente escondidas em um fundo falso e as de George colocadas no bagageiro do veículo puxado por cavalos e os diários de George e Gustav postos em uma valise escondida em uma das quatro paredes falsas do transporte ao mesmo tempo em que, com um papel amarelado e usando um tinteiro roubado das coisas do patrão, redigia uma carta contando toda a verdade, mas fazendo-o quase às escuras para não despertar suspeitas.
Pela manhã o vilarejo acordou com o barulho da carruagem de George saindo e a Irmandade se despedindo dele e dos seus criados que partiam em direção à Viena, sem imaginar que seriam vítimas de um plano extremamente diabólico e que uma vampira estava escondida em uma das malas grandes levadas pelo inglês e que seriam salvos por uma criada francesa.
Tutchenko, o criado siberiano de George, conduzia a carroça com muita calma enquanto George ria vendo que seu plano ia indo melhor que ele esperava, enquanto Frieda, dentro de uma das malas, esperava o momento certo para sair dali, quando a viagem já estivesse três léguas do vilarejo.
Depois de algumas horas naquela estrada de chão batido no meio das paragens austríacas, Tutchenko parou e disse: - Já pode sair a patroa, senhor.
George desceu da carruagem e pediu ajuda aos criados para tirar a mala de trás do veículo dizendo: - Muito cuidado, as coisas dessa mala são valiosas, mas o que há de mais valor nela é minha deusa.
Os três tiraram a bagagem e abriram-na, vendo Frieda reclinada e luxuosamente vestida com um brilhante vestido azul claro com flores bordadas descendo pelo corpo e uma lustrosa capa preta, além dos lindos cabelos compridos presos em um penteado cuidadosamente feito pela criada, que na noite anterior tinha finalmente tramado algo concreto que poderia arruinar os planos do maldoso casal. Ela levantou-se e disse, arrumando o vestido e a capa:
- Você demorou muito meu amor, eu estava quase gritando dentro dessa mala desconfortável.
- Mas em compensação eu tenho um lindo presente para te dar - disse ele tirando uma caixa forrada em veludo azul escuro do bolso do casaco.
- O que é? - perguntou Frieda com os olhos brilhando.
George abriu a caixa e de dentro dela tirou um lindo colar de diamantes e pérolas que era de um valor altíssimo, uma herança de família deixada por sua mãe falecida. Colocando-o no pescoço da vampira, disse: - Uma jóia preciosa para a mais preciosa das jóias.
- Oh George, você é realmente um amor, não sei como vou retribuir tamanho mimo - disse Frieda de modo gracioso.
- Se você continuar me dando noites inesquecíveis de prazer, eu ficarei extremamente feliz - respondeu George agarrando Frieda pela cintura e olhando-a com desejo.
Frieda riu, dando um beijo em George e logo depois, acompanhou-o dentro da carruagem junto com a criada que em Viena lhe serviria de dama de companhia enquanto Tutchenko ficava no banco do condutor laçando os cavalos e seguindo viagem.
O plano cuidadosamente planejado e que vinha sendo perfeitamente executado tinha tido seus últimos ajustes e logo acabaria com a tranqüilidade da Irmandade.
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