Katy Weil, depois da terrível descoberta, se sentia a última das últimas, pensando em como fora ingênua de acreditar na falsa bondade de George Witcherwell, que na verdade tinha pegado o diário não com a intenção de salvar e sim matar a Irmandade.
Ao mesmo tempo, alguns membros da Irmandade saíram às buscas do corpo do camponês desaparecido e o encontraram já em começo de decomposição, trazendo-o para o vilarejo, onde pais e duas irmãs caçulas o reconheceram, ficando em prantos de tristeza e revolta e implorando por justiça pelo assassinato do jovem Markus.
Enquanto isso, Maria e Anton planejavam seu casamento apesar da preocupação com o fato de Frieda estar viva, afinal, ela certamente queria vingança e faria de tudo para consegui-la, fosse ao preço que fosse, ao mesmo tempo em que se preparavam para ir ao enterro do rapaz, marcado para o final da tarde.
Já a Irmandade estava se preparando para uma provável invasão das tropas do Imperador em busca do grupo, que tinha de ser preso e levado a Viena para ser julgado e quem sabe, condenado à morte na forca ou na guilhotina.
As notícias da sobrevivência de Frieda e da traição do irmão George Witcherwell espalharam-se rapidamente, deixando todos os moradores, bruxos e trouxas, apavorados e sem saber o que fazer, já que era apenas questão de tempo uma tragédia acontecer.
O padre bruxo Constantino procurava acalmar a população dizendo que nada de mal aconteceria a eles, porém parecia não adiantar nada, pois todos assim mesmo estavam temerosos, afinal, o que esperar de uma criatura extremamente malévola e de um traidor mau caráter ao extremo? Qualquer coisa.
Apesar de toda essa turbulência, Harold e os irmãos seguiam trabalhando ao lado dos bruxos para o crescimento do vilarejo. Enquanto isso, o holandês se aproximava, e se apaixonava, pela bela florentina Branca Di Lauredano, bruxa vinda da Escola de Magia de Hogwarts e da casa Sonserina, que, apesar da péssima fama dos feiticeiros dessa casa, mostrava ser uma grande colaborada das causas do vilarejo, além de ser muito amiga de todos e extremamente bondosa com o povo mais pobre.
Harold e Branca conversavam muito, notando que tinham muito em comum: eram viúvos, tinham dois filhos quase adultos, adoravam flores, além de serem apaixonados por festas e dança. A maioria da Irmandade notara a aproximação deles e os mais conservadores não gostavam, pois, apesar de terem liberado os bruxos no vilarejo, um casamento entre um irmão e uma bruxa romperia os limites implicitamente impostos por eles.
Porém, os mais liberais achavam que logo haveria outro casamento além do de Maria e Anton, porque ficaram muito felizes com o possível novo amor de Harold, já que a esposa deste morrera há mais de 20 anos, apesar do holandês e da feiticeira de Florença terem uma diferença de idade bastante considerável, já que ele tinha 58 anos e ela 39.
- Você tem sido uma grande amiga Branca, não sei como agradecer tanta amizade que me devota, embora eu não mereça tanto - disse Harold sorrindo.
- O faço por adorar companhia de pessoas cultas e inteligentes como o senhor - retribuiu Branca com um sorriso igual.
Os dois riam sentados perto da banca da senhora Günther enquanto o médico bruxo Dr. James Watson, britânico de 45 anos, viúvo e com um único filho chamado John, em uma casa perto da dos Weil Gelhorn, examinava homens, mulheres e crianças dando inúmeras recomendações e dicas para que ninguém ficasse doente e para os que estavam adoentados, remédios.
Os dias passavam e o vilarejo mudava de modo inacreditável, pois cada vez mais bruxos chegavam, além de elfos e outras criaturas mágicas que viravam de cabeça para baixo a rotina dos moradores mais antigos e abriam inúmeros negócios, como lojas de derivados, cooperativas, oficinas e outros, além de usarem as árvores da floresta para construir casas e móveis para estas.
- Dessa maneira nosso vilarejo vira capital do Império da Áustria! - exclamou rindo um imigrante bávaro que bebia uma caneca de chope na taverna do senhor Kiringann.
- Não te tiro a razão, velho Karl! - disse o dono espantado com a movimentação que a sua taverna nunca tinha tido em muitos anos de existência, tanto que o estoque de bebidas e comidas teve de aumentar muito.
O que mais espantava os moradores antigos era o fato de muitos bruxos virem de famílias normais e os casamentos entre humanos sem poderes e feiticeiros, elfos e bruxas, elfos e trouxas, misturas que faziam a incredulidade dos camponeses, já que as crianças nascidas dessas uniões saíam muito lindas e espantosamente inteligentes.
Também, as missas presididas pelo Padre Constantino estavam sempre cheias, com todo mundo sempre disposto a ouvir as lindas palavras de pregação e as belas homilias do sacerdote, muito querido entre todos pela sua profunda religiosidade cristã católica e seu amor pelo próximo.
Em Viena, George tentava arrumar um modo de conseguir ter contato com o imperador Francisco I, já que o Congresso ainda não terminara, ainda era o mês de novembro de 1814 e as negociações para refazer o mapa da Europa de antes da Revolução Francesa de 1789 continuavam e pareciam nunca terminar, cujo objetivo era fazer voltar a Europa ser o que era antes de 1789.
- Que horror minha deusa, este Congresso não termina, parece uma maldição! - exclamou Witcherwell furioso.
- Temos de ter paciência meu amor lindo, você tem que entender que há coisas que são importantes para eles, mas não para nós - falou Frieda calmamente enquanto tomava um delicioso banho de espuma.
- Por mim que esse Congresso se exploda, quero ver aqueles malditos da Irmandade na forca, por mim seria agora mesmo! - exclamou George apertando e quase quebrando uma taça de vinho na sua mão.
- Isso leva um tempo amor, entenda que a política é um assunto complicado, ainda mais por que o mapa da Europa continua bagunçado - respondeu Frieda rindo.
- O que você entende de política? - perguntou George com ironia.
- Quando morávamos em Veneza, eu e a imbecil da Maria éramos obrigadas a aturar meu falecido pai falando o dia todo sobre política com um bando de idiotas que sonhavam com a unificação do território itálico, ai minha nossa, que horror aquilo! - exclamou a vampira rindo demais, como se aquilo fosse uma simples e boba brincadeira.
George riu também e se aproximou da vampira para dar-lhe um beijo, quando esta o puxou para dentro da banheira com roupa e tudo e disse maliciosamente: - Vamos relaxar meu amor, você está tão nervoso, uma dose cavalar de prazer fará bem para você - enquanto desabotoava a roupa dele.
Ele riu, aceitando o convite dela e eles fizeram sexo ali mesmo, com a cena sendo secretamente observada pela criada Sabine, que pensava repleta de ódio sem despertar desconfiança alguma nos patrões: - Quando vocês menos esperarem, os planos de vocês serão arruinados, seu calhorda e sua puta, podem ter certeza que não vou deixar fazerem mal a ninguém!
Tutchenko, o criado siberiano, que também não desconfiava dela, arrumava os vasos no corredor e notou que Sabine olhava para o quarto dos patrões. Curioso, perguntou rindo: - Ora, sua francesinha boba, metendo seu empinado nariz aonde não foi convidada?
- Não, siberiano da boca rasgada, olho isso e penso como duas pessoas podem ser capazes de tamanha sordidez contra pessoas que mantém a ordem naquele fim de mundo encravado nas montanhas, francamente isso é incompreensível - respondeu ela seca.
- Entenda Sabine, a Irmandade trava o progresso das coisas e a liberdade das pessoas, todos têm o direito de viver a vida como quiserem apesar de existir as leis para limitar os atos e decisões de todos - respondeu o russo com uma taxativa frieza, que era como o clima de seu lugar originário.
A loira francesa não tinha como argumentar contra a fala precisa daquele homem aparentemente ignorante que possuía uma enorme cicatriz no rosto que atravessava sua boca além dos olhos verdes e frios, pois aquela reflexão tinha um imenso fundo de verdade.
No vilarejo que aos poucos virava uma grande vila, Maria mostrava que suas mudanças eram reais, inclusive treinava seus poderes na floresta com outras jovens bruxas e aprendia a atirar com Anton, embora Katy protestasse, pois a sobrinha saía sem estar devidamente acompanhada de um homem e mexia com “coisas de homens”, no que Maria respondia:
- Eu já não sou nenhuma garota ingênua, eu tenho a segurança e a certeza necessárias para viver minha vida!
Ao mesmo tempo, na capital imperial, enquanto George, depois de fazer sexo com Frieda, tinha saído para fazer negócios, ela estava sozinha, deitada em sua confortável cama de lençóis de linho, pensando em como ajudar o seu amado, já que ele há dias tentava contato com o imperador, porém, devido às negociações do Congresso de Viena, era impossível.
De repente, fez-se um estalo na cabeça da vampira, que disse para si rindo: - Sou tão linda e tenho carnes duras e pueris, por que não oferecer uma oferta instintivamente irrecusável para o imperador?
Porém, ela sabia que George não facilmente aceitaria isso, mas era, talvez, o único modo de conseguir o que ambos tanto almejavam: a prisão e condenação da Irmandade à forca ou à guilhotina.
Frieda pensava em como convencer George a aceitar, quando foi interrompida pela voz grave do criado siberiano: - A senhora deseja algo?
- Sim, desejo você - respondeu ela maliciosa desamarrando o robe vermelho e mostrando a sensual camisola, da mesma cor.
- O patrão pode voltar a qualquer hora e eu não teria coragem de possuir a senhora, minha patroa - respondeu ele se afastando e saindo do quarto, porém, no corredor, Tutchenko pensou: - Esta vampira muito endiabrada e me deixa louco, como consegui resistir àqueles seios maravilhosos e quadris tão fartos? Mas é melhor ficar em meu canto se não quiser que o senhor Witcherwell me tire o bem mais precioso, a vida.
- Mas que siberiano! Como ele pode recusar me possuir? Ofereci meu corpo a ele e por causa do George, esse biltre não aceita, ora essa! - exclamou ela fazendo um muxoxo e voltando a sentar na cama.
Sabine, limpando o corredor, observou a cena e pensou indignada: - Puta amaldiçoada!
Ao mesmo tempo, alguém em uma janela da luxuosa casa que ficava do lado, a observava tão bela e sensual, desejando possuí-la.
No local que se tornava aos poucos uma grande vila de variedade racial, Harold e Branca tentavam esconder, porém não conseguiam disfarçar que estavam perdidamente apaixonados, fazendo os moradores começar a comentar aquele inesperado romance implícito iniciado com simples conversas na sacristia da igreja, que fora batizada de Santa Sophia (Santa Sabedoria) pelo sábio sacerdote bruxo Constantino Joseph Di Kholbe.
- Não posso negar que amo a Branca, porém eu sei que muita gente nunca aceitaria meu casamento com uma bruxa, ainda mais se ela veio de uma casa cuja fama é tão terrível - falou Harold em conversa com aquele que considerava seu filho, o padre.
- Harold, se a ama verdadeiramente, não se importe com isso, a vida é sua e a Irmandade não tem o direito de se envolver no que você faz ou deixa de fazer, além disso, todos aqui sabem que a senhora Di Lauredano é uma ótima pessoa e não duvido que vocês dois formarão um belo casal - disse Constantino sorrindo.
- Sim meu filho, eu sei, então eu falarei com ela e a pedirei em casamento, afinal, se nos amamos tanto, por que esperar? - falou o holandês dando um sorriso de orelha a orelha.
O sacerdote ficou muito feliz e abraçou o amigo que considerava como pai.
O irmão Lauzun, atrás de uma porta, ouviu tudo e pensou que deveria contar ao resto da Irmandade, já que os conservadores do grupo sabiam que mais cedo ou mais tarde, Harold iria revelar seus sentimentos por Branca, pediria sua mão em casamento e era certo que detestariam, porém, o austríaco filho de franceses refletiu consigo mesmo:
- Não posso impedi-lo de amar quem ele queira, nunca teria coragem e também, Branca é uma ótima pessoa e seria muito bom o Harold ter uma mulher ao lado dele, bem que este holandês atarracado está precisando.
Ele sorriu e saiu assoviando enquanto as crianças, puras de raça e as misturas das mesmas brincavam, jogavam e corriam alegremente pela rua sem se importar com suas diferenças. Olhando aquela cena, Lauzun pensava:
- Como seria o mundo se todos, como nós, ao menos tentassem convivessem em paz?
Na sua luxuosa mansão em Viena, Frieda imaginava um modo de fazer George aceitar seu plano ao mesmo tempo em que cuidava de Lucrecia, sua cunhada tísica de quem gostava muito e que passava quase o tempo todo deitada e sabia de tudo o que ela e George faziam e diziam.
- Muito bom esse plano que armou, vê-se que você é um gênio - disse Lucrecia sorrindo.
- Apesar de estar agradecida cunhada, sei que George nunca aceitará que o imperador me possua - respondeu Frieda pensativa.
- Deixa essa parte comigo, eu me encarrego de convencê-lo, pois quase sempre George escuta o que digo e nesse caso, ele sabe muito bem que isso que planejas tem um objetivo certo: colocar na forca os homens que me tiraram a saúde anos atrás - falou Lucrecia, a bela ruiva de olhos azuis que se encontrava tuberculosa na cama.
A vampira sorriu e pensou como seria se sua cunhada fosse imortal como ela, então, resolveu fazer uma surpresa para seu amado.
À noite, chegando em casa depois de um cheio dia de trabalho em seu escritório comercial, George viu sua amada e sua irmã conversando alegremente na sala e aquilo lhe causou espanto, já que, pela manhã, Lucrecia tinha tido uma crise séria, inclusive cuspido sangue.
- Lucrecia, eu vejo que melhorou demais enquanto estive fora, está bem mais corada e até saiu daquela cama, coisa que não faz a um bom tempo - falou alegremente Witcherwell.
- Irmão lindo, eu estou melhor que nunca e Frieda é a responsável direta por isso - respondeu ela abraçando George com força.
O britânico, ao ser abraçado, sentiu ela estava com a pele mais fria e deduziu de imediato o que ela tinha acontecido:
- Não posso crer que deu a vida eterna à Lucrecia! A cada dia que passa te amo mais e mais minha deusa!
- Venha aqui meu amor, vamos nos amar de novo - falou Frieda maliciosamente colocando as pontas de seus dedos no queixo de George e levando-o pela escada ao quarto deles.
Lá chegando, os dois despiram-se mutuamente de modo selvagem enquanto trocavam beijos e carícias com muito desejo, logo depois se deitando na cama e praticando o que eles mais gostavam com tudo a que se tinha direito naquele caso.
Entre gargalhadas, beijos e carícias, eles se amavam sem se importar com nada, afinal, eles tanto se amavam, inclusive eram “casados” com direito a aliança, mesmo que aquilo não fosse verdadeiro, porém, convinha que eles fingissem ser um casal oficialmente unido, pois uma festa marcada para dali a vários dias seria talvez a porta de entrada deles na alta sociedade vienense.
Ao mesmo tempo, Lucrecia dizia para os inúmeros criados da casa os primeiros detalhes do grande baile de inauguração da imensa mansão de George, cujos convidados seriam, na sua maioria, membros da nobreza vienense, além de comerciantes e banqueiros, quem sabe até o próprio imperador estaria presente, pois muitos nobres próximos deste faziam negócios com a família Witcherwell.
Os Witcherwells da Inglaterra, tradicionalmente, eram riquíssimos industriais e comerciantes de produtos industrializados ingleses, artigos de ouro, prata e marfim e as pedras preciosas vindas da costa litorânea da África, matérias-primas das ex - colônias de Portugal e Espanha, isso com um intenso comércio marítimo e uma frota de navios que superava até a da já decadente Holanda.
Porém, poucos sabiam que eles também traficavam escravos e outras coisas da África, além de serem violentos e capazes de tudo na luta por seus próprios interesses, mesmo que isso incluísse homicídios, chantagens, roubos, golpes e até mesmo estupros.
No auge daquele imenso prazer, Frieda, não suportando a vontade que tinha de tornar George seu para sempre, cravou as presas na macia carne do pescoço dele e sugou o sangue de modo que ele ficasse como ela. Retirando os caninos, disse sorrindo:
- Agora sim somos um do outro para sempre, meu amor - e logo depois o beijando.
George, depois de receber aquele “beijo”, virou-se para o espelho ao lado da cama, vendo pela última vez sua imagem e a marca feita em seu pescoço, que logo sumiram, tornando aquele traidor mau caráter oficialmente um vampiro.
Os dois riram sinistramente muito felizes, sendo observados pela criada Sabine, escondida atrás da porta do quarto, que pensou apavorada: - Deus do céu, isso não fazia parte dos planos e agora?! Só Ele sabe qual será o meu destino quando eles descobrirem o que fiz!
Aquele pensamento a apavorava, pois apesar dela ter roubado o sapato mais simples, uma hora eles notariam a falta de um dos pés do sapato cor-de-rosa, agora, a empregada precisava dar um jeito de fugir o mais rápido que pudesse.
Com o agora vampirismo de George Witcherwell, só Deus de fato sabia o que poderia acontecer agora.
terça-feira, 31 de março de 2009
Frieda, a Vampira - Volume 1: A nobreza despida (1814 - 1854) - Capítulo 5: O certo, o errado e o necessário...
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