terça-feira, 28 de abril de 2009

100 escovadas antes de ir para a cama

Baseado no filme "As noivas do vampiro" (1960)

Os silêncios são sonoros, eu penso enquanto escovo os cabelos ruivos mais uma vez 100 vezes antes de dormir, nunca conseguindo esquecer o grande infortúnio que se abateu em minha vida há cinco anos.
Essa frase ecoa em minha mente e penso o quão parece absurda, mas ela não o é, pois em meu quarto o silêncio é tão grande que posso ouvir até as asas de uma mosca batendo, ruído que não pode ser ouvido diante de tantos outros que são mais altos à noite, como os dos grilos. Tudo que eu queria era voltar atrás, evitar que isso tivesse acontecido, quem sabe se eu não tivesse escutado o seu chamado, o soltado daqueles grilhões dourados, por ele me apaixonado e dele me tornado noiva, talvez eu não me sentisse o pior dos seres humanos.
Também, me sinto a responsável pela morte de pessoas que nada tinham a ver com aquela amaldiçoada história de alguém preso na própria casa por representar uma ameaça às vidas de muitas outras.
Eu faria qualquer coisa para esquecer esses fatos tristes, mas também faria para tê-lo de volta, pois, apesar de tudo, eu ainda o amo, com toda a minha alma e o meu coração. Por isso me sinto tão dividida entre o sagrado e o profano, o bem e o mal, a moral e o imoral, a carne e o espírito, tantas antíteses que nem consigo contá-las, tantas que minha sanidade parece me fugir em alguns momentos.
Sinto que ele retornou, porém não me procurou ainda. Parece que o homem, ou vampiro, que amo não tem coragem para me encarar depois de tudo o que aconteceu, sinceramente eu não compreendo, ele me parecia tão frio e cruel na hora de cometer seus atos e agora, não possui a honestidade para pelo menos me dar alguma explicação.
Faltam 20 escovadas ainda para terminar o ritual feito sempre há mesma hora antes do sono e de repente, escuto o vidro da janela de meu quarto quebrando, exatamente como cinco anos atrás.
Olhando para trás, eu novamente o vejo tão loiro e tão lindo como no primeiro dia, seus olhos castanhos conservando o mesmo olhar vampiro daquela época e sua altivez sendo a mesma, nada tinha mudado, assim como eu.
Corro até os seus braços e não hesito em aceitar o beijo que ele dá em meus lábios, aquele que reinicia nosso amor e une os nossos corações para todo o sempre, sem se importar com as tantas antíteses que cercam a vida de um ser humano.