sexta-feira, 17 de abril de 2009

Frieda, a Vampira - Volume 1: A nobreza despida (1814 - 1854) - Capítulo 7: Uma guerra próxima demais

Na vila bruxa-trouxa, a manhã já havia chegado sem que ninguém desconfiasse do que Raven havia feito no castelo, pois a noite podia ser capaz de esconder de tudo, mesmo os piores atos.
Porém, a Irmandade já desconfiava de algo, visto que o advogado bruxo não estava em casa e isso soava estranho porque ele sempre acordava às 06h45min da manhã para começar seu trabalho e hoje, exclusivamente, ele não se encontrava em casa naquele horário.
- Mas que estranho o doutor Raven não estar em casa - falou Levine, o irmão do lenço branco.
- De repente, o bruxo doutor das leis saiu mais cedo para fazer alguma coisa - disse Lauzun pensativo.
- Se fosse isso, qualquer um de nós teria visto ele, afinal, somos os que acordam mais cedo aqui e o vilarejo ainda é pequeno apesar da chegada dos novos moradores - disse um irmão.
- O nosso irmão não deixa de ter razão, então o que será que esse sujeito foi fazer? - perguntou Hufflepuff muito desconfiado.
Padre Constantino, que acordava alguns minutos depois dos irmãos para seus afazeres religiosos e manuais, viu que os irmãos estavam discutindo e perguntou o que passava, recebendo a resposta de que Raven não se encontrava em parte alguma do vilarejo e pelo visto, passara a noite fora.
- Mas o que será que anda acontecendo com o doutor Christopher? Acho que essa saída que ele deu deve ter a com alguma coisa muito séria que está passando com ele e que este não comenta de jeito nenhum - falou o padre pensativo.
Todos ali ficaram espantados e acompanharam o pároco até a igreja para tratar melhor daquele assunto. Ao chegarem lá, se surpreenderam com a seguinte visão: Raven ajoelhado no altar chorando agoniadamente, como se estivesse pedindo perdão por algo muito grave que havia feito.
- Perdão meu Deus, perdão pelo meu pecado, te imploro Senhor, perdoa-me pelo mal imenso que causei, eu precisava salvar minha família das garras de um bruxo das trevas! - exclamava o advogado bruxo aos prantos e com os joelhos sobre pedras.
- Santo Cristo, o que estás fazendo doutor?! - perguntou o padre com espanto.
- Me castigando da pior forma por ter feito o mal que fiz! - respondeu Christopher se apoiando no padre, que lhe estendera a mão, para levantar-se do chão, pois seus joelhos sangravam e mal ele podia andar.
Os irmãos e o padre se perguntavam o que Raven fizera de tão sério e o criado Bernard respondeu: - Deixem-me levar meu patrão em casa e depois passarei com ele na igreja e contaremos tudo em detalhes.
- Acho melhor ter uma explicação plausível para isso que vimos! - exclamou Levine muito bravo.
Bernard nada disse e levou o patrão nos braços para casa, já que este mal parava de pé e implorava paz para seu coração amargurado.
As pessoas ali, incluindo o padre, não entendiam a estranha atitude de Raven enquanto tentavam achar um motivo para tal coisa, quando de repente, Harold chegou e perguntou o que se passava e porque o advogado estava machucado e chorando.
- Ainda não sabemos, mas saberemos quando eles virem aqui outra vez - respondeu Hufflepuff.
- Passei pelos dois quando vinha e notei algo esquisito, havia muita terra nos sapatos deles, o que me faz pensar que eles estiveram em um lugar muito plano e o único lugar assim que conheço é a volta do castelo Karnstein - disse o holandês dando em seguida uma olhada para trás e vislumbrando Raven e seu criado andando muito devagar.
Levine explodiu de raiva e exclamou: - O que aqueles dois foram fazer naquele lugar?! Fechamos com fortes correntes aquele antro de devassidão para nunca mais ninguém pôr os pés lá!
- Algo me diz que isso que eles foram fazer no castelo deve ter a ver com alguma coisa muito grave que está havendo com o bruxo das leis, tenho a sensação de que hoje nosso dia será cheio de surpresas - disse o líder da Irmandade fazendo a expressão de quem sentia uma sensação muito ruim.
Todos se calaram e acharam melhor trabalhar para esquecer a frase dita por Harold, pois não estavam preparados para receber outra notícia ruim, já bastava saberem que a vampira Frieda estava viva e que George traíra os irmãos por causa dela, a criatura mais devassa que haviam conhecido e para piorar, logo as tropas do Imperador Francisco I podiam chegar.
Ao mesmo tempo, Karnstein, já instalado na casa do advogado bruxo e fumando um charuto, ria feliz por estar novamente vivo e pronto para se vingar da Irmandade, porém, Christopher e Bernard não estavam nada felizes com a presença do vampiro, mas tiveram de abrigá-lo porque ele não podia se mostrar publicamente.
- Será que podes parar com tuas malditas gargalhadas ao menos por um minuto, imagina se alguém ouve?! Estaremos todos mortos! - exclamou raivosamente o criado homossexual enquanto cuidava dos joelhos machucados do patrão.
- Perdoa-me senhor Bernard, mas estou feliz demais por terem me trazido de volta - retribuiu educadamente o vampiro.
- Por mim, tinha te matado quando levantaste daquele túmulo! - respondeu Raven cheio de ódio.
- Não poderiam, pois quando estava escondido atrás de uma árvore lá fora, testemunhei aquela cena patética que protagonizaram naquela igreja ridícula e ouvi que sua família tem de ser salva, então, deveriam me tratar com um pouco mais de respeito, que eu mereço - disse Karnstein rindo levemente.
- Vá à puta que o pariu, não merece respeito algum depois de todos os atos que cometeu e um deles foi o assassinato de Gustav Weil! - exclamou Bernard furioso.
- Não tem o direito de falar assim comigo seu criadinho medíocre e além do mais, aquele Gustav era um fanático religioso besta que não deixava ninguém em paz com o puritanismo excessivo dele, alguém tinha de calar a boca daquele imbecil e também de todo o resto daquela Irmandade ridícula! - exclamou o vampiro exibindo as presas.
- Tentas fazer algo contra algum deles para ver se não te dou um tiro nas fuças! - gritou Bernard se levantando e dando uma forte coronhada no rosto do vampiro Karnstein com sua pistola, atirando o ser sugador de sangue quase um metro e meio longe devido ao impacto da pancada.
- Agora você verá o que é bom seu insolente! - exclamou o vampiro furioso e se levantando disposto a dar uma lição no criado.
- Rictusempra! - gritou Raven apontando sua varinha para Karnstein, que caiu atordoado no chão, como se um raio o tivesse atingido.
Levantando um tanto trêmulo depois de um minuto, o vampiro perguntou olhando o advogado com espanto: - O que é isso, como me fez tombar ao chão dessa forma?!
- Para tua informação, sou um bruxo e acho melhor não te meteres comigo e nem com meu amigo, então, se mais uma vez tentar tocar em Bernard, estará com sérios problemas! - falou Raven impositivo ainda que estivesse deitado na cama com os joelhos arruinados.
- Está bem, não sou louco de me arriscar com alguém como você, percebi que não está de brincadeira por teu tom de voz, se bem que, se eu quisesse, poderia matar ambos apenas com uma mão - respondeu Karnstein com escárnio.
- Toques uma de tuas mãos imundas em mim ou em Bernard para veres do que sou capaz! - exclamou o bruxo das leis no auge de sua raiva.
- Está bem então, por enquanto eu deixarei os dois em paz, mas fiquem preparados porque a qualquer momento posso explodir e se acontecer isso, ambos estarão sem saída - disse Karnstein, que pensava em usar de alguma forma os dois para seu sinistro objetivo: eliminar para sempre a Irmandade e o resto do vilarejo, agora vila bruxa - trouxa, por um único motivo, os camponeses terem ousado invadir seu castelo para ceifar-lhe a vida e, não importaria quem estivesse pela frente, todos seriam exterminados sem dó nem piedade.
- Isto se eu estiver sem minha varinha e Bernard sem as armas seu maldito! - disse Raven olhando para Karnstein e espumando de ódio pelo vampiro.
Depois de um minuto, eles resolveram que o melhor era parar a discussão e continuar naquele incômodo até que alguma coisa concreta fosse feita para amenizar aquilo, já que logo Raven e Bernard teriam de ir até Viena levando Karnstein consigo para usar como moeda de troca pela família do advogado bruxo.
Ao mesmo tempo, os habitantes daquele lugar encravado nas montanhas trabalhavam como nunca para fazer aquele lindo lugar crescer sem desconfiar que o Conde Karnstein estivesse vivo e andando entre eles naquele momento:
- Como esse lugar mudou desde que o desgraçado Hoffer me atirou aquela estaca, nunca pensei que tantos imbecis se arriscariam em vir montar vida nesse lugar perdido no tempo e no espaço, bem que meu avô dizia que bruxos são inferiores! E agora a ridícula Irmandade está sob o comando do imbecil do Harold, aquele holandês nariz de batata e metido a liberal!
Chegando perto da barraca de frutas e verduras da senhora Günther e observando dali o resto da vila bruxa - trouxa, o vampiro percebeu que muita coisa ainda continuava a mesma e pensava:
- Sempre a feirante de quinta balançando as pelancas velhas, o dono da taverna falando as mesmas besteiras de sempre, o abestalhado do Karl comentando sempre da vida alheia e o Levine pregando a idiotice do liberalismo inglês, ah minha nossa, que pessoas certas de inteligência suportariam isso?!
- Procura algo senhor? - perguntou a alegre gorducha alemã, dona da famosa barraca de frutas e legumes, vendo que havia um rapaz alto e jovem na frente de seu negócio.
- Sim, procuro alguém para matar! - falou Karnstein em tom baixo, mas muito ameaçador e, virando-se para a barraca, apontou a pistola que carregava para a senhora.
A senhora Günther levou um susto ao reconhecer o rosto do Conde Karnstein em sua frente e tentou dizer algo, porém foi impedida por ele: - Melhor que fique quieta, mas bem quieta mesmo se não quiser levar um tiro nessas pelancas penduradas!
A verdureira queria avisar a todos da presença do vampiro, porém aquela arma apontada para ela não permitia que ela esboçasse reação, o que fez o malvado ser rir bem baixinho e de modo quase sádico.
A velha senhora rezava para não levar um projétil de arma de fogo enquanto o vampiro ria cruelmente vendo a situação em que ela se encontrava, porém, ele não contava com os perspicazes olhos do padre bruxo Constantino, que por ali passava a cavalo.
Vendo o estranho fato que se passava, o religioso desceu do animal a um metro e meio da banca e perguntou de surpresa: - O que está acontecendo, por que esta arma apontada para a senhora Günther moço? Acho melhor ter uma explicação para isso!
- Tenho sim, padreco medíocre, retornei para tomar de volta o que é meu, toda esta terra e farei de tudo para conseguir, mesmo que tenha de massacrar esta gentalha, incluindo o senhor e esses bruxos! - exclamou o nobre vampiro se virando com a arma apontada contra o peito do padre.
Vasos se quebraram, panelas caíram ao chão, apenas algumas das muitas e variadas reações que se fizeram nas pessoas da volta ao verem novamente o infame vampiro com os pés no vilarejo.
- Então você é o famoso Conde Karnstein? Pois fique sabendo que estas terras não são suas, são do povo que vive e construiu aqui uma vida e também, nunca mais ofenda um membro da Igreja de Deus seu pecador desavergonhado! - exclamou o padre furioso.
- Achas que eu me importo com o fato desse lugar perdido ser povoado por um bando de camponeses calhordas analfabetos e semi-analfabetos e um grupo de bruxos que acham que conquistaram o mundo só porque foram emancipados por alguns impérios?! Expulsarei todos daqui, aliás, farei melhor que isso, eu matarei todos, pagarão por terem desejado minha morte! - gritou enfurecido o vampiro e pronto para apertar o gatilho da arma.
- Isto se eu e os outros permitirmos, desgraçado filho de uma meretriz! - berrou alguém jogando com força uma consideravelmente grande pedra na mão do vampiro e conseguindo acertá-lo, desarmando-o.
Karnstein, que se distraiu apontando a arma para o padre, viu sua arma ir longe, ficando sem poder ameaçar ninguém, sob os olhares repletos de ódio de todos ali presentes, que estavam prontos para linchar o vampiro.
- Para o seu bem, pare de nos ameaçar, antes que aconteça algo pior com você, essas pessoas não estão nada felizes com sua presença - falou o padre querendo permanecer calmo depois da fúria momentânea.
- Não te metas padreco, o assunto é entre eu e esses ridículos que mataram minha Frieda, fazendo ela se atirar daquele muro dentro do fosso e também com esse bando de mortos de fome que estão a tua volta! - gritou o vampiro apontando o dedo na direção do padre.
O padre não esboçou nenhuma reação, mas um furioso Levine gritou: - Para falar bem a verdade seu infame desgraçado, Frieda não está morta, ao contrário, sobreviveu e conseguiu fugir do vilarejo e agora está em Viena se lambuzando na cama com o traidor de nossa Irmandade, George Witcherwell, que nos traiu por causa dela e certamente aquela puta nem lembra mais de você, então cala a boca seu corno!
Karnstein ficou estático ao escutar aquilo e Harold furioso, querendo dar um soco em Levine: - Será que apenas um dia pode segurar essa língua comprida e não usar termos baixos?!
- Este vampiro filho da puta merecia ouvir isso e ser alvo de chacota para deixar de ser arrogante de nariz empinado! - retrucou Levine.
- Eu tenho que admitir que dessa vez o Levine tem razão - falou Hufllepuff rindo.
- Isso não pode ser verdade, não pode ser, eu a vi pular aquele muro e bem embaixo há um fosso de água corrente, ela morreu derretida lá! - exclamou Karnstein se recusando a acreditar no que ouvira, além de estar andando em direção a Irmandade.
- É verdade e tenho como provar - disse o padre com um tom de voz calmo.
- Pois então quero ver essas provas e será agora! - exclamou Karnstein se voltando enfurecido para o padre.
- Petrificus Totalus! - exclamou o padre usando sua varinha mágica para paralisar o vampiro.
Todos riram ao ver o conde congelado pelo feitiço enquanto Harold e mais dois levavam-no para a casa do líder da Irmandade, onde ele seria descongelado e amarrado para dizer como voltara e o que de fato queria.
Maria e Anton testemunharam a cena sem conseguir esboçar uma reação plausível, pois ainda não queriam crer que aquilo estava acontecendo e o pior, não havia passado três meses da morte dele e ele já voltara para causar ainda mais problemas ou será que seria ainda pior? Eles se perguntavam enquanto pensavam no dia de seu casamento, que selaria o amor que sentiam um pelo outro.
Na casa de Harold, ele e alguns dos irmãos conservadores, além do padre, colocaram Karnstein de pé e chamaram o gigante Wolffenbüttel e mais um camponês forte do vilarejo para segurar o vampiro caso ele tentasse fugir. Os dois chegaram ficando dos lados de Karnstein e o padre exclamou apontando a varinha: - Finite Incantatem!
Karnstein, logo que voltou ao normal, foi segurado fortemente pelos fortes camponeses e repeliu a cruz que o padre ostentava, gritando: - Sai de perto de mim com isto, meus olhos estão pegando fogo!
- Não saio enquanto não te amarrarem - respondeu o padre fazendo sinal para atarem o vampiro com cordas bem fortes.
O conde vampiro resistiu fortemente enquanto os irmãos, com imensa satisfação amarravam, com nós apertados, as mãos e pés do vampiro, que berrava inúmeros impropérios contra tudo e todos ali.
- Cala tua boca, maldito! - exclamou Harold dando uma forte bofetada no rosto do vampiro para fazê-lo parar de gritar.
Depois de terminar o serviço, eles riam ao ver Karnstein a ponto de chorar, amarrado, odiado, agredido e humilhado de forma brutal enquanto o padre bruxo tirava o crucifixo e puxava uma cadeira para sentar diante do vampiro e interrogá-lo.
- Senhor Conde Karnstein, todos aqui sabemos que o senhor morreu estaqueado por Anton Hoffer no mesmo dia em que você assassinou o senhor Gustav Weil, antigo líder da Irmandade - falou o padre olhando nos olhos do vampiro.
- Sim, é verdade. Suponho que queira saber como voltei, não é? Então, o senhor lembra-se da cena de arrependimento ridícula protagonizada por aquele advogadozinho bruxo de meia pataca na igreja? Pois foi ele que ministrou um ritual de magia negra para fazer meu retorno e fez isso não por querer, mas porque a família medíocre dele está em perigo! Coitadinho dele não é? - disse o vampiro dando gargalhadas e quase cuspindo no rosto do padre.
O padre e Harold ficaram impressionados enquanto os irmãos conservadores que lá estavam pensavam em reunir os outros seguidores de Gustav e ir até a casa de Raven, pegá-lo e queimá-lo na fogueira, o mais adequado castigo para um bruxo que ousou trazer de volta o satânico vampiro Conde Karnstein.
- Nenhum de vocês ouse sair daqui, iremos todos juntos à casa do Raven! - exclamou Harold percebendo o que os irmãos fariam.
- Quem traz o mal de volta tem de ser severamente punido! - exclamou Wolffenbüttel no auge da fúria.
- Será que nenhum de vocês viu como aquele homem estava, aos prantos e se castigando pelo que fez?! Vocês são tão insensíveis e sem coração a ponto de não perceberem que ele fez isso apenas para salvar a família dele, que só Deus sabe onde se encontra e nas mãos de quem?! Por que vocês não se colocam no lugar do Dr. Raven e tentam sentir a dor dele?! Vocês jamais fizeram isso quando queimavam aquelas pobres e inocentes moças na fogueira quando Gustav era líder, pelo menos agora façam isso, provem que são humanos! - gritou Harold a tal ponto que toda a volta escutou.
- Oras Harold, deixe seu sentimentalismo besta de lado! Sabe muito bem que essa seria a vontade do Gustav e que sua liderança não é aprovada por boa parte de meus companheiros por causa do teu liberalismo! E ainda, só aceitamos a chegada dos bruxos por tua causa e pelo fato de serem cristãos como nós apesar de que alguns são de outras religiões, também, nós sabemos que está apaixonado por uma bruxa, coisas que Weil nunca admitiria se estivesse vivo! - revidou Wolffenbüttel a ponto de agredir fisicamente Harold.
Padre Constantino, já furioso com aquela discussão que certamente não iria a lugar nenhum, também gritou: - Não percebem que estamos a ponto de entrar em guerra com as tropas do Império Austríaco, que só Deus sabe quando vão chegar?! E vocês, e ao invés de se unirem, ficam discutindo qual a melhor ideologia para esse vilarejo! Pelo amor de Nosso Senhor, parem com isso e vamos pensar em um modo de evitar que uma tragédia destrua todos nós, os que já moram aqui e aqueles que estão construindo uma vida nova!
Lauzun, Harold e os irmãos que ali estavam se calaram diante das duras palavras do padre bruxo enquanto Karnstein, mesmo amarrado, ria vendo aquela situação: - Bando de idiotas, pensam que podem contra o Imperador?! Conformem-se, já estão todos mortos!
- Cale-se seu desgraçado! - gritou Harold tirando seu crucifixo e pressionando sobre uma das pernas de um indefeso Karnstein durante vários minutos.
O vampiro deu um terrível berro de dor que ecoou por todo o vilarejo e fez todos que estavam à volta tentarem entrar para ver o que tinha acontecido, quando Maria, que ali passava com o noivo Anton, empurrou todos gritando que ele penaria nas mãos dela e do noivo.
Anton concordou e sorriu, adentrando a casa do líder da Irmandade ao lado de Maria e com ela subindo até a sala onde estava o vampiro. Ao enxergar Karnstein se contorcendo de dor em uma das pernas devido à queimadura causada pela cruz sagrada, Maria imediatamente começou a esbofetear o rosto dele inúmeras vezes.
- Pelo amor de Deus Maria, o que está fazendo?! - exclamou Lauzun apavorado e tentando segurar uma enfurecida Maria.
As bofetadas só cessaram depois de vários minutos, deixando o rosto de Karnstein em um vermelho quase sangue e Anton, de quebra, deu muitos socos seguidos no vampiro.
- Parem com isso os dois, por favor, ele já está pagando os pecados dele e continuará até se arrepender deles - falou o padre bruxo espantado com o que acabara de acontecer e vendo Karnstein berrar que jamais se arrependeria de nenhum dos seus atos.
- Mesmo assim, nunca poderei perdoá-lo por ter matado meu tio e minha irmã - disse Maria em seguida completando: - Apesar de saber que Frieda se entregou a ele por vontade própria.
Apesar de ser padre, Constantino sabia que ela nunca poderia perdoar Karnstein por todo o mal que ele fizera e que o vampiro não deixaria aquela tortura a que era submetido passar em branco e faria algo para se vingar.
O padre bruxo lembrou-se que tinha de mostrar a Karnstein as provas de que Frieda estava viva e pegou-as de dentro do bolso da batina, colocando-as sobre a mesa da sala e pedindo aos irmãos que trouxessem Karnstein para próximo, onde ele pudesse visualizar os espinhos, os pedaços de roupa, o sapato e a carta da criada Sabine.
O vampiro, já perto da mesa e ainda amarrado, olhou os objetos e leu a carta, logo depois ficando calado por vários minutos, porém pensando: - Ora sua vagabunda, você sabia muito bem o que estava fazendo quando pulou aquele maldito muro, afinal eu te mostrei todo o castelo durante os dias em que você veio se encontrar e se deitar comigo! Te amo por ser inteligente, mas te odeio por estar com outro!
Karnstein, depois de um tempo calado, gargalhou e exclamou: - Vocês da Irmandade são uns de idiotas, ignorantes e insignificantes, pois tinham um traidor debaixo dos narizes e nem perceberam, deixaram que ele fugisse com o diário do medíocre Gustav! George trocou a sisudez de vocês pelos beijos, carícias, seios, quadris, coxas e nádegas de Frieda!
Furioso, Lauzun tirou sua cruz do pescoço, abriu a camisa de Karnstein à força e pressionou-o sobre um dos mamilos do vampiro, que novamente soltou um grito de extrema dor ao mesmo tempo em que tentava se soltar das cordas que o prendiam.
Enquanto isso, o casal Frieda e George desfrutava da maravilhosa vida que levavam e davam um passeio pela linda Viena conversando alegremente, dando migalhas de biscoito aos passarinhos, trocando discretos beijos com juras de amor, sendo observado pelo mesmo alguém que olhava da janela de sua casa para a bela e voluptuosa vampira.
A bela vampira percebeu que alguém loiro, alto, de físico consideravelmente forte, dono de belos olhos castanhos, rosto de um anjo e usando uma elegante casaca azul marinho a olhava de dentro da carruagem em que estava e espantou-se, afinal, quase ninguém a conhecia em Viena apesar de todos saberem quem era o famoso comerciante George Witcherwell.
A vampira riu discretamente sem perceber que o próprio Imperador Francisco I se aproximava para saber quem era a esposa do comerciante que negociava com seus nobres e o Príncipe Von Metternich, o estadista que presidia o Congresso de Viena.
- Estava a passar pelo Passeio Público quando o Marquês de Munchaünsen disse-me que o senhor tinha uma bela esposa e vejo agora que ele não mentia - disse o Imperador de surpresa.
Frieda quase engasgou com o próprio riso e George ficou sem palavras ao ver ninguém menos que Francisco I diante dele, além de reconhecer, ainda que um pouco longe, o marquês que estava dentro da carruagem e era um de seus maiores aliados comerciais.
Imediatamente, a vampira beijou a mão do governante maior do Império da Áustria dizendo:
- Perdoa-me senhor Imperador, meus olhos não viram que Vossa Excelência se aproximava.
- Levanta-te minha jovem senhora, é tão bela, tua beleza não pode ficar escondida, todos tem de vê-la e o senhor, senhor Witcherwell, o grande comerciante vindo de minha aliada Inglaterra, teve enorme sorte de achar jóia tão rara nestas paragens - disse o Imperador olhando George com uma certa inveja.
- Eu sou de Veneza caro Imperador - disse Frieda dando um belo sorriso.
- Da Cidade do Amor só podiam vir mulheres de inigualável beleza, mas a tua é ainda mais - disse o Imperador beijando a mão da bela vampira sem saber que ela o era.
Frieda sorria para a Grande Autoridade Austríaca enquanto George quase explodia de ciúmes vendo Francisco I olhá-la com um desejo quase explícito e algumas nobres comentando que o Imperador ficara todo bobo com a beleza daquela burguesinha da qual elas nem sabiam o nome, apenas que era casada com Witcherwell, embora ninguém soubesse como eles haviam se casado.
Por alguns segundos, George ficou extremamente furioso ao perceber a troca de olhares entre Frieda e Francisco I, mas percebeu que aquele inesperado encanto do Imperador por ela podia trazer inúmeras vantagens, como o aumento dos negócios dele, uma guinada no plano de vingança deles, além de um título nobre para ambos.
Por um momento, Frieda voltou seu olhar ao “marido” e percebeu o que ele pensava sobre aquilo e ficou ainda mais feliz.
Algumas horas depois, na vila bruxa-trouxa, a Irmandade, depois de se reunir na igreja, se dirigiu à casa do advogado Raven para tirar a limpo a história do ritual satânico e resolver aquilo de uma vez enquanto o Dr. Watson, com remédios mágicos, tratava da fraqueza e dos ferimentos do vampiro Karnstein.
Chegando à casa do bruxo das leis, padre Constantino, Harold e os irmãos viram que ele ainda estava na cama com os joelhos machucados, porém com um grande sorriso e dizendo:
- Bernard acabou de voltar da rua e contou-me o que vocês fizeram com aquele maldito, agradeço muito, ele merecia depois de todo o mal que fez, aliás, merecia bem mais.
- É melhor que o senhor explique o porquê do ritual que ousaste fazer naquele antro amaldiçoado! - gritou Lauzun tão ou mais furioso que o gigante Wolffenbüttel, que ali se encontrava pronto a partir cada osso do advogado.
- Acalma-te irmão, eu explicarei tudo. O motivo disso é que minha esposa e três filhos foram raptados por um bruxo das trevas chamado Klaus Wolff, que foi noivo de minha esposa antes dela conhecer-me. Ele jamais se conformou com o fato de Louise ter se casado comigo, então exigiu que eu trouxesse de volta os cadáveres da família Karnstein, porém não me contou o motivo para fazê-lo, embora eu imagine vários, afinal Wolff faz todo e qualquer tipo de maldade - respondeu o advogado bruxo com um bocado de tristeza na voz enquanto Bernard ficava em silêncio.
- Acho que ele deve ter te pedido isso para testar sua coragem, ver até onde você ia para salvar quem mais ama - falou Harold impressionado.
- Pode ser, mas o único modo de sabermos é descobrindo onde está a família de Raven e ir resgatá-la, assim talvez também consigamos localizar Wolff - disse o padre.
Todos ali olharam para o padre e Harold perguntou: - Como irá localizá-los, existe magia para isso?
- Existe sim, pois alguns bruxos nascem com o dom da telepatia, só que para localizar alguém, uma das pessoas desaparecidas também tem de ter a mesma habilidade para haver o contato telepático - respondeu Constantino pensativo e dizendo logo em seguida: - O problema é que não sei se há alguém aqui no vilarejo com esse dom.
- Padre, meu filho Arthur nasceu com esse dom! Poderemos encontrar todos através dele! - exclamou Raven cheio de felicidade.
- Mas existe a possibilidade de cada um dos raptados terem sido colocados em um lugar diferente - falou irmão Klemens.
- Deixa de ser burro, onde já se viu raptar alguém e fazer isso?! - exclamou outro cutucando o que falara antes.
- Pior é que Klemens pode ter razão, pois alguns bandidos são absurdamente inteligentes e não raras vezes utilizam raptos para fazer emboscada - falou Lauzun dando crédito às inesperadas palavras do irmão Klemens, um dos poucos irmãos com formação acadêmica, no caso, médico.
Todos ali ficaram sem saber o que fazer devido às palavras de Klemens durante minutos até que Harold disse:
- Falarei com os novos moradores daqui e verei se há alguém que tem esse dom, isso será essencial para salvar a família do Dr. Raven e se eles estiverem espalhados, usaremos da magia dos bruxos e de nossas armas para resgatá-los.
- Harold, você é um homem abençoado por Deus, pois sempre está esperançoso e isso é maravilhoso demais para todos! - exclamou o padre bruxo Constantino sorrindo, mas dizendo logo em seguida nem tão sorridente: - Mas sou totalmente contra usar armas.
- Sim padre, nós entendemos a sua posição, mas nesse caso teremos de usar tudo o que possa nos ajudar, afinal, não sabemos o que vamos encontrar pelo caminho - disse Klemens concordando com as palavras de Harold.
O resto pensou o mesmo e logo Harold saiu à busca do bruxo que tivesse esse dom enquanto os outros saíram em busca de armas para o resgate da família do advogado bruxo e também, para uma futura invasão das tropas imperiais, já que eles não podiam prever quando isso aconteceria.
Vendo aquela movimentação, Maria decidiu em pensamento: - Vou ajudar, não posso deixar o pobre Dr. Raven sozinho nisso e nem meu noivo caso ele vá, afinal Frieda pode tentar seduzi-lo novamente!
Katy, vendo a inquietação da sobrinha, perguntou: - O que se passa contigo Maria?
Maria respondeu o que desejava e Katy exclamou: - Está ficando louca Maria?! Isso é coisa para homens e você é mulher, não pode sair viajando por aí com Anton sem ser casada com ele!
- Tia, eu já sou grande o suficiente e além do mais, me defendo bem melhor que antes e deixei de ser aquela mocinha boba que eu era quando aquela desgraçada, maldita e puta da Frieda me manipulava como queria! - exclamou Maria se sublevando contra a tia.
- Isso são termos que se use para se referir à sua irmã?! - espantou-se Katy com o que Maria dissera, já que sua agora única sobrinha jamais tinha tido coragem de usar palavras semelhantes.
- Frieda deixou de ser minha irmã no dia em que permitiu que quase me queimassem e cometeu todos esses horrores até agora e só Deus sabe quantos mais ela é capaz de cometer se alguém não for capaz de pará-la, então eu tenho ao menos de fazer algo e já que não tive coragem de fazer antes, que seja agora! - falou Maria furiosa e subindo ao seu quarto para tomar banho.
A bela jovem entrou no quarto, despiu-se e sentou na bacia de madeira já pronta com água morna pensando em tudo o que acontecera até o momento, principalmente em Anton, o noivo pelo qual era muito apaixonada e a quem desejava como mulher, porém aquilo para ela ficava soando um tanto anormal apesar dela ser bruxa, afinal, ela não era casada e uma esposa que se prezasse não sentia desejo pelo marido, mas logo depois, Maria pensou:
- Ora, não consigo entender por que razão os humanos sem poderes pensam que desejar alguém é pecado, pois se um casal se ama, deveria ter vergonha de dizer que se deseja e tem prazer?
Katy, na cozinha fazendo um bolo, depois de pensar muito nas terríveis palavras ditas pela sobrinha, não teve como discordar delas, pois elas estavam realmente certas e agora, ninguém sabia que os acontecimentos estavam chegando a ponto de tomar um novo e ainda pior rumo por um único motivo: o Imperador Francisco I estava totalmente encantado e desejoso pela voluptuosa vampira Frieda Gelhorn, a maléfica criatura das trevas que mais que nunca, usaria seus sedutores artifícios para conseguir o que desejava.